Mais seis e é centenária

Foto: Ana Filipa Oliveira / 11.2011
Já é uma vida longa, para lá da esperança média de vida, aliás tem mais cerca de dez anos do que dizem as estatísticas acerca do sexo feminino. São muitas histórias, muitos tempos... pelos quais passou. Não só passou, como os viveu, e deixou-se marcar por eles. Marcas que normalmente a fazem avançar na vida, com a sua curiosidade própria e a sua capacidade de observação. Fica admirada com os "preparos" (assim lhes chama) que hoje há. E não se acanha em perguntar quem é o dono do restaurante em que se encontra. Na festa de baptizado da minha sobrinha mais nova, quando demos por ela, estava na cozinha a confraternizar com aqueles que ela bem se entende, aqueles que trabalham e são simples nos modos. É uma mulher de fé e positiva. Fala muito de Deus e Nosso Senhor, reza sempre, todos os dias, a qualquer altura... reza como um diálogo... apanho-a às vezes na varanda fechada do apartamento da minha mãe, quando vem de visita, sentada num banco, com a persiana para cima, a olhar lá para fora, e a falar sozinha, aparentemente a falar sozinha... está a falar com Aquele que lhe deu e dá força para a caminhada, que tem sido feita de pedras, umas mais pequenas, outras bem grandes, mas que ela prefere ultrapassar e deixá-las lá atrás. Por ela vivia muitos mais anos, mas já sente as pernas a fraquejar. A cabeça, como diz, está boazinha. E está! Guarda nela resmas de papel com cantilenas que inventa e se orgulha de recitar sempre que tem oportunidade. Não sabe escrever, nem ler, mas sabe-as de cor... são retratos dos seus tempos, dos 94 anos que hoje comemora. É a festa da vida... do amor à vida! Mas já pediu que quando partisse não chorassem muito, pois ela tinha a certeza que ia estar bem. Que assim seja! Mas já agora, daqui a mais uns anos.

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