Leva o Teu Burro a Beber

Tenho uma convicção muito forte. Só conheço uma maneira de mudar o mundo: mudar o interior de cada um de nós. O problema é que nem todos nós querem mudar. E a acrescentar ao busílis, alguns de nós pensam que podem mudar o outro. E qual o método que usam? A confrontação, a força... E isso não muda ninguém. Com recurso a imagens que contém dentes, burros e quintais, ilustro esta minha teoria. E no final, só tenho a dizer: muito dificilmente o mundo mudará, pois há muitos burros teimosos por aí, muitos dentes a voltar à posição antiga e muitos quintais por limpar.

Burro parado junto a um arbusto de flores rosas, foto em tons quentes
Foto: Daniel Burka

Na minha adolescência, assim como muito provavelmente na adolescência de muita gente, experimentei a força do desejo de mudar o mundo. Nessa fase da minha vida era algo ardente, urgente e muito quente que tinha a vibrar dentro de mim. Não queria mudar os astros nem o planeta fisicamente. Tinha, sim, o ímpeto de renovar os seres que ocupam esse espaço: a humanidade. Só que, nessa altura, usava a confrontação como ferramenta de trabalho. Arranjei várias discussões, vários desamores por lutar por ideias como a justiça ou a tolerância... porém, com a experiência e as novas fases da vida, fui-me apercebendo que à força nada muda.

Contenção, para não voltar ao Antigo

Somos animais de hábitos. Podemos até empurrar alguém para outro lugar, quer emocional, mental ou fisicamente, mas, se a mudança não é pessoal, vinda do interior, é só virarmos as costas e voilá: voltou para o lugar antigo. Sabias que podes usar aparelho dentário anos a fio, mas se não usares um aparelho de contenção, os teus dentes tendem a ocupar a posição que tinham originalmente!? Assim somos nós.


Quando faz Clique

Se um dente tivesse vontade própria e decidisse certo dia que iria mudar de lugar, acredito que não voltaria à posição antiga. Não é assim connosco?! Quando um dia se faz um clique e tomamos a resolução convicta de que queremos alterar algo, isso acontece. E a seguir à decisão, aos passos da mudança, temos sempre uma fase de luta interna (ou disciplina) para não voltarmos ao que já é antigo. Em qualquer momento da nossa mudança, tudo depende do nosso interior.

Donkeys, that's the way
Foto: Darren Coleshill

Falar a Linguagem de Burro

"Podemos levar o burro até à fonte, mas não o podemos obrigar a beber." é um ditado que repito muitas vezes, depois de ter descoberto que não crio frutos de mudança, confrontando, obrigando... Posso até mostrar um novo caminho, uma perspectiva diferente, uma alternativa à escolha, mas, tomar a decisão e agir de acordo com ela, apenas a própria pessoa o pode fazer. E "mostrar" não é puxar à força o burro pelas correias, mas falar-lhe de um modo que lhe prenda a atenção, que lhe seja claro e que lhe faça sentido.

Limpeza de Cada Quintal

O mundo físico, nomeadamente em termos climatéricos, como tudo em geral, só mudará quando as mentes forem renovadas. Acredito piamente que apenas poderá suceder uma mudança mundial, começando no interior de cada um de nós. Não nos adianta andarmos a limpar o quintal dos outros, se o nosso está todo cheio de ervas daninhas. Não sejas burro!


Sobre o projeto A Cultura Mora Aqui

Criado pela Ju, do blog Cor Sem Fim, o projeto A Cultura Mora Aqui - ou ACMA, para abreviar - tenciona, tal como tenho vindo a referir nos meses anteriores, trazer a cultura de volta à internet com temas mensais ou bimestrais. Para participarem, só têm de enviar um e-mail com os vossos dados para acma.cultura@gmail.com - aproveito para repetir que não vamos falar sobre outfits, maquilhagem, moda, etc, e que qualquer um de vós pode participar, não sendo obrigatório fazê-lo todos os meses. Para não perderem nenhum post, já podem seguir a página do ACMA no facebook e a Revista.



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4 comentários

  1. Concordo totalmente com aquilo que dizes. Aliás, há uma frase do Gandhi que descreve tudo isto muito bem: temos de ser a mudança que queremos ver no mundo, porque se quisermos mudar os outros à força mas não corrigirmos nada em nós mais vale estarmos quietos.

    Gostei muito do teu post! Podes ler a minha participação deste mês no ACMA aqui: http://inesmartinsxx.blogspot.pt/2018/01/5-pequenas-coisas-que-podes-fazer-para.html
    Beijinhos

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    1. Obrigada, Inês, pela tua visita e comentário.
      Encontramo-nos no teu blog :-)

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  2. Gostei muito de te ler. É algo que também tenho aprendido com os anos: estou sempre pronta para uma boa discussão, mas no verdadeiro sentido da palavra. Com argumentos, ideias, e vontade de ouvir de parte a parte - ter razão só "porque sim", à força, não me diz nada. Não é assim que vamos mudar mentalidades - sexualidade, territórios, alimentação, tudo, seriam melhor geridos entre diferentes opiniões e geração se tivéssemos mais empatia!

    Bom post! :)

    Jiji

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    1. Obrigada, Joana, pela tua visita e pelo teu comentário. Sim, a empatia é um dos elementos básicos da inteligência emocional. Que a possamos desenvolver todos e todos os dias um pouco mais!

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