Quero ser brasileira

Estava agora a limpar o chão da cozinha e saltou-me da caixa de memórias aquele dia em que a minha professora da Primária acabou com o meu sonho. Ela perguntou o que queríamos ser. Eu disse-lhe "Brasileira." Eu acho que ela referia-se às profissões. Mas para mim, que via todas as telenovelas brasileiras que havia na época, acompanhando a ala feminina da família... para mim, ser brasileira era uma espécie de estatuto que se adquiria. Na verdade, estou para aqui a filosofar, mas não sei por que razão misturei as duas coisas: nacionalidade e profissão.
Rapidamente tinha o meu sonho destruído. E não era pelo facto da professora me explicar que uma nacionalidade não era uma profissão. E que talvez fosse melhor eu pensar noutra coisa. Não! Foi destruído, porque ela pintou-me o lado negro do quadro. Falou da pobreza, da criminalidade... Pronto! Assim não queria. Queria o lado colorido e divertido da coisa, tal e qual aparecia nas telenovelas. Queria ser assim sofisticada como a Christiane Torloni, entrando nossa casa dentro todos os dias depois do telejornal. Queria ser elegante, alegre, feminina, ter empregadas. muita roupa...
Hoje, ao limpar o chão da cozinha lembrei-me deste dia... eu sentada na carteira lá da ponta, na primeira fila, voltada para o quadro, ou melhor dizendo, para a parede ao lado do quadro preto, onde estava uma colagem, imitando um detalhe do Primavera do Botticelli... e a professora Armanda junto à janela, levantada, em cima de um pequeno estrado, com calma e serenidade derrubando cada tijolo da minha linda ilusão.

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2 comentários

  1. Hahahaha sou brasileira em diverti horrores com esse post! Quem dera se todas nós brasileiras tivéssemos o status da Torloni, mas não custa nada sonha não é? Vc falando do seu relato de querer ser brasileira e eu passei a vida querendo ser gringa! hahahaha!
    Beijos!!!
    http://vivendolaforanoseua.blogspot.com/

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    1. Oi, Gisley!
      Tudo legal? :-) Nao sou brasileira, mas sei falar bacana, né? kkkkk
      Ainda bem que você se divertiu. Volte sempre. A porta fica aberta.
      Inté.

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